ChatGPT | João Piccioni

"A coisa mais importante nos próximos 3 a 4 anos será a presença de data centers no espaço."

Gavin Baker, CIO of Atreides Management LP

Essa frase, simples e contundente, foi proferida recentemente por Gavin Baker, um dos investidores mais iconoclastas do Vale do Silício, em meio à torrente de análises sobre o futuro da infraestrutura de IA. É bem verdade que ela poderia soar como ficção científica. Mas, para quem opera nos bastidores do investimento em venture capital e megaprojetos de infraestrutura, ela soa menos como especulação e mais como inevitabilidade.

Mas deixe-me contextualizar porque essa história chegou a meus ouvidos com força particular neste momento específico.

Um parêntese pessoal (e estratégico)

Nos últimos meses, após minha saída do grupo onde trabalhava, descobri um privilégio raro no universo dos investimentos: a liberdade para estar verdadeiramente aberto às oportunidades que realmente interessam, sem as restrições burocráticas ou obrigações de defender o indefensável.

Essa abertura resultou em alguns investimentos concretos. Uma parcela de recursos direcionada a startups locais e a participação em duas rodadas de captação internacional que há muito me interessavam.

A primeira delas foi a xAI, a empresa de inteligência artificial de Elon Musk que está construindo uma alternativa competitiva aos ecossistemas da OpenAI, Anthropic e Google, além das iniciativas voltadas à robótica. A rodada reflete a convicção de que o futuro da IA não será definido por uma ou duas arquiteturas centralizadas, mas por alguns competidores de classe mundial.

A segunda é a SpaceX, cujos negócios avançam para além de uma "simples" empresa de lançamento de foguetes, em direção a uma infraestrutura de comunicações globais (Starlink) e, agora, para algo ainda mais ambicioso.

A notícia recente sobre a possibilidade do IPO da SpaceX para 2026 só me deixou mais confiante na ideia mirabolante. Afinal de contas, a conexão entre os pontos é clara. A empresa contém o conjunto mais eficiente do planeta trabalhando em órbita — Starlink e a Falcon 9 —; a infraestrutura de laser inter-satélite já está operacionalizada; e os comentários assertivos de Musk sobre colocar data centers em órbita. Isso leva à conclusão de que não estamos vendo "apenas" uma empresa de lançamentos, mas uma plataforma que pode capturar camadas inteiras de um novo stack tecnológico — e, sim, preparar de fato a ida do homem para Marte.

A convergência

A imprensa começou a capturar o tema apenas há alguns dias, refletindo em reportagens de Bloomberg e WSJ sobre Bezos e Musk "competindo" por data centers em órbita. E especialmente após a entrevista de Baker para o excelente Patrick O'Shaughnessy, host do podcast Invest Like the Best. Mas a realidade possui mais cores: o que estamos vendo não é uma competição binária, mas uma convergência dentro dos megatrends desta década.

Três fatores estão convergindo simultaneamente:

  1. Poder infinito demandado por IA – A experiência de quem trabalha intensivamente com IA é reveladora: os limites não são apenas técnicos, mas econômicos. As necessidades energéticas dos modelos de fronteira e a competição pelos tokens estão cada vez mais esbarrando nos limites físicos, políticos e ambientais da Terra, especialmente conectados à questão energética. No espaço, essa limitação é teoricamente menor.

  2. Custo de lançamento colapsando – A SpaceX reduziu o "custo por kg" de forma tão dramática que projetos antes impossíveis (computação orbital) agora têm uma curva de viabilidade econômica. Starship tornará isso ainda mais radical em 2026.

  3. Radiadores infinitos – O vácuo do espaço é o trocador de calor mais eficiente do universo. Não é preciso torres de resfriamento, água em abundância ou sistemas de climatização complexos. O calor é radiado para o espaço.

A convergência desses três aspectos torna a ideia economicamente superior e, agora, bastante possível.

A corrida não é de um homem só

Não é somente a SpaceX que está em busca do conceito. Outros grandes players como o Google (Project Suncatcher), OpenAI, Microsoft e Amazon também estão explorando esses possíveis novos passos. As camadas dessa nova frente estão sendo construídas:

Camada 1: Acesso (SpaceX, Blue Origin)

Camada 2: Plataformas orbitais (Axiom Space, Blue Ring)

Camada 3: Computação em órbita (startups como Starcloud e Lumen Orbit)

Camada 4: Interconexão (ótica, links movidos a laser, infraestrutura terrestre para captura dos dados)

Todos esses passos vêm sendo desenvolvidos ao mesmo tempo. Mas a exposição ao tema via SpaceX parece ter se tornado a grande porta de entrada. Além dos mais de 9 mil satélites em órbita, a companhia vem gerando bilhões de dólares em receitas recorrentes, por meio das assinaturas do Starlink.

Os outros players de ótica e interconexão e de computação em órbita terão em algum momento a sua viabilidade testada. É algo para se apostar, dada a capacidade de transformação da infraestrutura e a velocidade acelerada de desenvolvimento impulsionada pela camada da inteligência artificial.

E vale ter em mente que o avanço desses vetores pode ajudar substancialmente o homem a dar outros passos na exploração espacial. Seja na mineração de asteroides (como alguns já têm sonhado), seja na visita ao planeta Marte. As cenas desse próximo capítulo estão apenas começando.

Forte abraço,

João Piccioni

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