À medida que o ano se aproxima do fim, revisitar previsões deixa de ser um exercício de conferência e passa a ser quase um ensaio sobre como o mundo se reorganiza diante de forças que já estavam ali, mas que só se tornam visíveis com o distanciamento do tempo. Quando escrevi o Outlook 2025, a ideia não era apontar um destino fechado, e sim iluminar a direção da viagem. Liquidez em transição, tecnologia como infraestrutura inevitável e um investidor brasileiro tentando se situar entre o desconforto doméstico e o desejo de globalidade. Olhando agora, o cenário seguiu esse desenho de maneira quase orgânica. Só que, no processo, o que mais me marcou não foi o acerto das premissas, e sim o tipo de aprendizado que elas provocaram.
É aí que 2025 ganhou uma camada a mais. Não de análise, mas sim de perspectiva.
Descobri que carreira, propósito e construção não são trilhas com placas de chegada. São arenas abertas, sempre em movimento. A lógica do jogo infinito do Simon Sinek, essa ideia de que não competimos para vencer, mas para permanecer no jogo, deixou de ser uma metáfora e se tornou prática diária. Em mercados, chamamos isso de adaptação contínua. Na vida profissional, chamamos de maturidade. Em ambos os casos, é a mesma coisa: seguir jogando mesmo quando as regras mudam, porque você não está ali pela vitória de curto prazo, mas pela transformação que acontece ao longo do caminho.
Sinek definiu essa distinção de forma brilhante. Jogos finitos têm regras claras, prazos definidos e vencedores declarados. A partida começa, alguém vence, alguém perde, e todos vão para casa. Jogos infinitos não têm linha de chegada. O objetivo é permanecer no jogo, evoluir continuamente e criar algo que transcenda os ciclos. Foi isso que 2025 me ensinou, de forma prática e, por vezes, dolorosa.
Durante anos, operei dentro de uma estrutura que jogava um jogo finito. Metas semestrais e depois anuais. Entregas pontuais e aprovações hierárquicas. Resultados mensuráveis em horizontes curtos. Não há nada de errado com isso, até que você percebe que a construção de algo verdadeiramente relevante não cabe nesse formato. O problema dos jogos finitos em ambientes de longo prazo é que eles recompensam velocidade no lugar de consistência. Favorecem a execução impecável de táticas no lugar da revisão constante de estratégias. E, acima de tudo, condicionam profissionais talentosos a buscar validação externa em ciclos cada vez mais curtos e em ambientes cada vez mais pobres. Pode até ser eficiente e mensurável, mas não é sustentável para quem quer construir algo maior e ir além.
Essa percepção ficou ainda mais viva quando comecei a desenhar a Capital Pulse do zero. Não era sobre fazer nascer uma operação. Era sobre redefinir um sentido. Durante boa parte do ano na velha instituição, ao refletir sobre o que construir no próximo ciclo, percebi que quaisquer propostas só fazem sentido se guiadas por um propósito que sobreviva ao calendário. Quero, portanto, que a Capital Pulse se torne um hub de investimentos no sentido pleno: um ponto de encontro entre conhecimento, tecnologia, inteligência aumentada, oportunidades globais, inovação e um jeito novo de educar e orientar o investidor brasileiro. É um organismo nascente, ainda em formação, mas já com um fio condutor claro: elevar a maturidade do investidor e conectá-lo ao que há de mais avançado no mundo. Não para entregar respostas prontas, e sim para ampliar o horizonte das perguntas certas.
Ao trazer essa visão para a Capital Pulse, percebi que precisaria aceitar um trade-off incômodo: abrir mão de vitórias rápidas para apostar em uma trajetória de crescimento composto. Isso significa investir tempo em conexões que não trazem retorno imediato, desenvolver conteúdos sem a pressão de conversão instantânea e, principalmente, aceitar que o reconhecimento virá de forma não linear. Volto a Sinek com insistência: jogos finitos têm vencedores, enquanto jogos infinitos têm jogadores que permanecem no jogo. E foi exatamente isso que 2025 me ensinou. Vitórias rápidas são ótimas. Dão dopamina. Validam escolhas. Mas não sustentam ninguém no longo prazo. O que sustenta é a clareza de propósito, a capacidade de adaptar táticas sem perder a estratégia e a convicção de que o trabalho bem feito compõe ao infinito.
E isso começou a ganhar contornos mais sólidos justamente neste último trimestre, que acabou se tornando uma espécie de laboratório acelerado. Mergulhei nos programas da Board Academy e em cursos ligados à Singularity e ao universo da inteligência artificial. Nada disso foi casual. Eu precisava tensionar minhas certezas, abrir espaço para novos frameworks mentais e revisitar minha própria forma de pensar estratégia. A Board Academy me apresentou a governança corporativa sob uma lente que eu não dominava. Aprendi que conselhos eficazes não existem para validar executivos, mas para questionar premissas, proteger a longevidade do negócio e garantir que decisões de curto prazo não comprometam a capacidade de jogar o jogo infinito. É uma mudança de mentalidade profunda: você deixa de ser o protagonista das decisões e passa a ser o guardião da trajetória.
Os cursos sobre inteligência artificial na Singularity foram disruptivos. A IA não é apenas uma ferramenta tecnológica. É uma força estrutural que está reconfigurando a forma como criamos, distribuímos e consumimos conhecimento. Entender isso não como hype, mas como realidade operacional, mudou a forma como penso o futuro da Capital Pulse. Não se trata de usar IA apenas para automatizar tarefas. Trata-se de redesenhar processos inteiros para ampliar impacto sem perder relevância humana.
Mais recentemente me associei à ecossistemas de startups — GV Angels e na Bossa Invest — e, mesmo tendo dado apenas os primeiros passos, já ficou evidente que neles existem um tipo de força única, uma densidade de conhecimento e troca que não se encontra em muitos lugares do mercado brasileiro. São ambientes que desafiam, expandem e, sobretudo, conectam.
Tenho convicção de que essas comunidades permitirão canalizar oportunidades, debates e visões para dentro da Capital Pulse, enriquecendo algo que ainda está sendo dilapidado, mas que já nasce com vocação de ponte entre mundos. É exatamente o tipo de ambiente que permite a Capital Pulse crescer com densidade, não apenas com volume. Esse espírito, inclusive, ganhou força e em breve lançaremos a nossa primeira startup, baseada em uma arquitetura “AI First" - contarei à você do que ela se trata mais à frente.
A combinação desses diferentes ambientes, startups, governança, deep tech, me colocou exatamente no território onde o jogo infinito vive: aquele lugar onde você se obriga a continuar evoluindo mesmo quando já domina o capítulo anterior. O que 2025 me ensinou, no fim das contas, é que jogar um jogo finito dentro de organizações orientadas por metas recorrentes pode até trazer conforto financeiro, mas limita o impacto que alguém é capaz de gerar no tempo. O jogo infinito, por outro lado, exige uma reorganização interna, praticamente espiritual. Ele pede paciência com propósito, urgência bem calibrada e disposição para errar rápido para aprender ainda mais rápido. Pede clareza sobre o porquê você faz o que faz, e qual legado deseja deixar.
Levo para 2026 essa visão em sua versão mais destilada: continuar construindo a Capital Pulse com um horizonte que não termina em dezembro do ano seguinte. Quero criar algo que compõe ao infinito, que se fortalece à medida que aprende, que ganha corpo à medida que os clientes (ou devo chamar de membros) interagem e que permanece como um instrumento de transformação do investidor brasileiro. Quero estruturar uma plataforma que integre conhecimento, tecnologia e oportunidades globais de uma forma que respeite o ritmo do longo prazo, mas que aja com intensidade quando as janelas se abrem. Não é uma promessa de velocidade. É um compromisso com direção. Perseguir impacto que compõe ao infinito, sem pressa, mas com urgência estratégica. Propósito claro. Convicções revisáveis. Execução iterativa.
No fim, ficou claro que o valor está em continuar jogando. E talvez essa seja a única certeza que realmente vale carregar para o próximo ciclo. Porque quando o jogo é infinito, o resultado a ser obtido é a evolução do próprio jogador. E isso, por si só, já torna a jornada valiosa.
Forte abraço,
João Piccioni
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