Ok. É preciso ajustar a rota…

O estresse proveniente da falta de dólares do mercado atingiu em cheio os mercados globais. As criptomoedas foram as primeiras a sofrer. E era questão de tempo para as ações das companhias ligadas à inteligência artificial, especialmente as mais especulativas, também sentissem o impacto. E se a injeção de ânimo não vier logo, em breve, outros mercados periféricos sofrerão.

O estresse do mercado cresceu, o índice do medo (VIX) voltou para a faixa onde tudo chacoalha - vide o comportamento das ações na quinta-feira (20) -, os hegde funds saíram em desespero para reduzir posições alavancadas, e as baleias do bitcoin correram para se desfazer das suas posições. Nada muito diferente do que vimos no início do ano…

As ferramentas para correção de rota da liquidez estão nas mãos dos bancos centrais. Especialmente do Federal Reserve. Por ora, parece não haver razões para uma eventual retomada do quantitative easing (QE), mas a verdade é que a discussão sobre o tema já vem ganhando formato. No entanto, por mais que os dados continuem indicando uma certa robustez econômica, o ponto principal é prover o lubrificante para que o motor não pare de funcionar. À conferir na reunião de dezembro.

Portanto, se o fluxo financeiro é o verdadeiro imperador nessa história, todo o resto é uma grande narrativa para justificar o comportamento dos preços. Achar pelo em ovo no balanço da Nvidia, ou insistir no fracasso da “economia circular” existente no setor, simbolizam a falta de capacidade de se avaliar os saltos tecnológicos. Já aconteceu no avanço da internet, no surgimento das redes sociais e, agora, com a IA.

A verdade é que as companhias de ponta continuam desenvolvendo seus projetos à todo vapor. Os investimentos (capex) não vão cessar de uma hora para outra e a capacidade evolutiva da IA continuará a suplantar a Lei de Moore - atualmente ela dobra sua “habilidade” a cada 2,5 meses. Quando esse tipo de convergência acontece, as mudanças no mundo corporativo ganham tração e os resultados econômicos são poderosos.

Lições da Volatilidade: Sobreviver para Construir

Mas é preciso sobreviver ao momento. Aliás, a primeira lição é enxergar esses momentos como favoráveis para a construção de patrimônio. Choques como esse dos últimos dias, normalmente se traduzem em boas janelas de realocação de carteiras.

A segunda lição é manter a tranquilidade e tirar os olhos das cotações. Enxergar as entrelinhas e o que está sendo produzido pelos negócios das companhias é mais importante nesses momentos do que querer compreender o comportamento dos investidores.

Por fim, a terceira, e derradeira, lição: buscar evitar ao máximo a alavancagem. Buscar ganhos extraordinários por meio de mercados derivativos, estruturas complexas e contas margem, só funcionam bem quando tudo vai bem. E, ultimamente, as mudanças de humor têm ganhado velocidade proporcional à evolução tecnológica. Melhor deixar essas estratégias de lado.

Partindo desse conjunto de ideias, posso afirmar com convicção que aprendi a gostar desses momentos intensos, nos quais os ajustes dos preços dos ativos abrem portas para novas alocações. Já não são poucas as empresas que consigo enxergar potencial de valorização capazes de dobrar o patrimônio investido. Tal qual no começo do ano, meu foco continua direcionado para a leitura dos resultados e pela compreensão do que vem pela frente. Nesse sentido, continuo otimista. Vamos olhar duas teses que continuam vencedoras.

Nvidia - A líder no mundo da IA

Ao divulgar os números referentes ao terceiro trimestre fiscal de 2026, Jensen Huang foi enfático: as vendas do Blackwell estão fora da curva e a oferta das GPUs ligadas ao segmento do cloud se esgotaram. Os investimentos dos hyperscalers continuam em modo acelerado, e devem continuar assim por algum tempo, dada a escassez de oferta computacional para alimentar o treinamento e inferência das ferramentas de IA.

As GPUs da Nvidia ainda são aquelas que guardam a melhor proposição entre processamento e consumo de energia, fazendo com que seja a escolha ótima dos grandes players para se prover serviços mais eficientes. E dado o incremento do número de usuários nas plataformas de nuvem e o avanço substancial de diferentes ferramentas e agentes de IA (já vão muito além das usuais), deter tecnologia de ponta parece algo fundamental.

Neste sentido, dificilmente a Nvidia perderá o seu posto de liderança no setor. A visão de longo prazo do seu líder é acurada, e ao longo dos últimos anos a empresa veio montando parcerias sólidas com grandes empresas globais. Não estou falando somente das Big Techs, mas outras companhias que estão liderando corridas em seus segmentos, como por exemplo, o Uber, a Nokia, Ericsson, entre outras.

É preciso ter em mente que o avanço da inteligência artificial neste momento perpassa a questão dos LLMs e, em breve, abraçará outros espectros. Além dos ganhos no digital, veremos um uso mais intenso no mundo físico, permitindo otimizações e ganhos de produtividade mais claros. As centrais de controle, responsáveis por orquestrar tais otimizações, precisarão de poder computacional crescente para lidar com a vastidão de dados que serão gerados.

Dito isto, me parece que o caso Nvidia ainda tem muitas pernas. As novas frentes de negócio ainda engatinham, o avanço tecnológico da computação acelerada cresce e a companhia tem caixa e inteligência para se reinventar a cada passo.

Alphabet: o jogo virou

A Alphabet, por sua vez, surpreendeu com o lançamento do Gemini 3.0 nessa semana. Finalmente, após um começo atabalhoado no mundo da IA generativa, a companhia fincou seus dois pés em uma estratégia acertada, que contempla a independência de modelos fundacionais de terceiros, das GPUs da Nvidia e de pacotes de remuneração astronômicos.

Depois de muito questionado, Sundar Pichai, CEO da companhia, guinou a máquina em direção ao mundo da IA. Os lançamentos de diversas ferramentas voltadas para criação de conteúdo, negócios e processos ganharam tração entre os usuários — hoje já superam os 650 milhões ativos mensalmente —, enquanto suas TPUs (os “chips” proprietários) rodam ativamente em todo o seu ecossistema de produtos.

Essa opção adotada pela companhia, de integração de todo o pacote — processamento, modelos e ferramentas —, tende a funcionar bem para consumidores finais e pequenas empresas, mas pode sofrer algum revés no mundo corporativo, dada as alternativas modulares, construídas pelas concorrentes. De qualquer forma, não vejo tal dinâmica ruim para a Alphabet, dado que a história mostra que ecossistemas fechados normalmente são mais propensos a entregar soluções eficazes e monetizar velozmente (lembra da Apple?).

Diante desse salto e do acerto estratégico (além de outros que estão por vir), enxergo a Alphabet como o negócio mais promissor nesse mundo da IA. Da inicial preocupação com o futuro do Google Search ao incontestável sucesso do Gemini, a virada de chave foi dada, recolocando a gigante na frente dessa corrida. Ao longo dos próximos meses, a companhia deve continuar crescendo, ampliando suas margens e gerando um bom valor para seus acionistas.

Forte abraço,

João Piccioni

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